Colocar-se no lugar do outro

No início após o AVC me depararei muito cedo com a questão da acessibilidade porque eu sentia na pele a necessidade de interação com o ambiente e percebi que a acessibilidade seria fundamental para o meu conforto e evolução terapêutica. 

O primeiro choque em relação a acessibilidade foi o fato de eu não ter acesso ao meu próprio quarto quando eu saí do hospital e retornei para minha casa. A família sempre desempenhou papel importantíssimo na minha reabilitação e desde este fato,  iniciou ações sempre  no sentido de melhorar as condições de acessibilidade da minha casa (transformaram o escritório de casa em quarto hospitalar e iniciaram a compra/instalação de um elevador). Mas mesmo eu tendo recursos de acessibilidade em casa, eu ainda carecia de condições psicológicas para usufruir dos ambientes. 

Conforme fui melhorando, fui explorando os ambientes e novas possibilidades foram surgindo na minha mente, pois o próprio ambiente dava estimulação neste sentido. 

Após a colocação do elevador, o meu quarto voltou a ser acessível. Nesse inicio eu tinha acessibilidade mas não tinha independência. Ao longo do tempo, fui adquirindo a autonomia em escolher o ambiente em que estaria e as atividades que comporiam este ambiente. A cadeira de rodas foi, e é um acessório que me permitiu estar e desfrutar desses espaços. Para algumas pessoas a cadeira de rodas pode ser uma coisa conflituosa, pois ao mesmo tempo que permite, também nos lembra da incapacidade, mas para mim, a cadeira de rodas sempre teve uma conotação de acessório e liberdade. 

No meu caso eu tive uma hemiplegia, o que dificulta mas não impede de fazer coisas, como por exemplo tocar a cadeira ( eu uso o lado contra lateral à lesão do braço para fazer força e o pé para corrigir e direcionar a cadeira de rodas). É um processo de treinamento que se deve fazer com muita atenção porque as habilidades vão ser desenvolvidas pela nossa cognição e serão novidades para o cérebro. 

 É importante fazer tudo que está ao nosso alcance, pois a vida continua e devemos participar dela. Temos que ter confiança que essa incapacidade é passageira pois existem várias vidas. 

A acessibilidade é uma questão de empatia e consciência. Se a pessoa consegue se colocar no lugar da outra,  ela consegue amenizar as dificuldades e potencializar o que tiver que ser.

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